Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. - João
8:36
Hoje o Brasil celebra sua independência frente a Portugal.
Festejamos o dia em que demos o grito do basta, deixamos de ser o quintal do
país europeu, chacoalhamos de sobre nós o jugo da escravidão e passamos a ser
livres para determinar nossos próprios caminhos.
Na sequência escolhemos
um monte de caminhos errados, é verdade, mas liberdade é o tipo de coisa que faz
sentido comemorar. Ninguém questiona a alegria que nasce da
libertação.
"Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como havendo
de ser julgados pela lei da liberdade", orienta Tiago (2:12). Jesus andou na
mesma linha dizendo que "se... o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis
livres" (João 8:36). Só que a maior parte das pessoas que eu conheço que
abandona a fé e a congregação da igreja afirma, por atos ou palavras, que está
justamente em busca de liberdade. Quer determinar seus próprios caminhos,
escolher livremente o que fazer com seu corpo, seu tempo, seus recursos. Não é
um paradoxo? Afinal de contas, mergulhar de cabeça em Cristo e aceitar de bom
grado - com entusiasmo até - participar de Sua igreja liberta as pessoas? Mas
como, se a maioria esmagadora das igrejas impõe um estilo de vida rígido e se
arroga o direito de julgar quem dele discorda (ao passo que a minoria que não
faz isso descamba, no mais das vezes, para uma atmosfera permissiva que dá a
impressão de que a fé e o evangelho são acessórios inócuos)? Como se, fazendo
isso, eu estou fatalmente deixando de fazer coisas que eu fazia
livremente?
Um verso de uma das músicas de Leonardo Gonçalves me ajuda a
desatar esse nó. Ele canta: "sempre estive preso ao meu prazer e minha dor/mas
eu hoje tenho liberdade no Senhor...". Viver para servir a seu próprio prazer e
para evitar sua própria dor é uma falsa liberdade, por "n" razões. Que nosso
coração e nossos sentidos são péssimos aios, fazendo com que o prazer de agora
redunde em dor e sofrimento prolongado no amanhã é uma delas. Que fomos feitos à
imagem e semelhança de um Deus que vive para servir, e, portanto, que o egoísmo
é negar nosso propósito e nossa natureza originais é outra
razão.
Reconhecer-se pequeno e submeter-se ao grande que nos ama é, sim,
experimentar liberdade, liberdade que Jesus chama de "verdadeira", indicando
assim que há uma falsa liberdade. Fazê-lo é sentir-se livre de si mesmo, apto a
resistir aos prazeres que - esses sim! - viciam e aprisionam e a suportar a dor
que antecede a felicidade plena.
Essa liberdade não é fácil de entender,
especialmente em nosso século. Admirar a liberdade difícil do evangelho denota
maturidade espiritual. A mesma que lhe desejo, porque sentir o vento dessa
liberdade no rosto é uma experiência indescritível.
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